
CLAUDIO SCHAPOCHNIK
Enviado a Jerusalém/ISRAEL
Juntar a fé com o turismo é tudo de bom e foi isso o que fiz – e recomendo a todos que o façam, claro, desde que tenham fé – no mês passado durante minha terceira viagem a Israel – as duas primeiras foram em 1994 e 2013. Orgulhoso de ser judeu, eu rezei junto ao local mais sagrado do judaísmo em todo o mundo: o Kotel Hamaaravi, também conhecido como Muro das Lamentações ou Muro Ocidental. Trata-se da única parte do Beit Hamikdash, como é chamado em hebraico o Grande Templo de Jerusalém, que sobrou da destruição realizada pelos romanos no ano 70. O local é a linda Cidade Velha, em Jerusalém, a capital do Estado de Israel.

Chegar ao Kotel e rezar lá foi o ponto alto na minha visita à Cidade Velha de Jerusalém. Fazia muito calor, mas o céu estava meio encoberto. Era um domingo, dia 18 de outubro. Estava acompanhado pelo excelente guia Ilan Chezar, um simpático israelense que fala também português. Entramos na Cidade Velha por Portão de Jaffa, que dá acesso ao Bairro Armênio – um dos quatro bairros locais; os demais são o Judeu, o Cristão e o Árabe.
O Kotel não é, de fato, um dos muros do Beit Hamikdash – como é chamado em hebraico o Grande Templo de Jerusalém, tanto o Primeiro quanto o Segundo. O Primeiro Templo foi construído em 1.000 A.C. pelo rei Salomão e destruído em 586 A.C. pelos exército de Nabucodonosor, rei da Babilônia. O Segundo Templo começou a ser erguido após o retorno de alguns judeus do exílio babilônico, sete décadas depois. Mas só atingiu a configuração grandiosa no governo de Herodes. No ano 70, depois de vencer uma revolta judaica, os romanos liderados por Tito conquistaram Jerusalém e pilharam e destruíram o Segundo Templo.

De acordo com uma reportagem publicada na revista Morashá, o Kotel é, sim, “a muralha ocidental entre as quatro que serviam de arrimo à plataforma construída por Herodes, ao redor do Monte do Templo, o chamado Monte Moriá, em cujo topo se erguia, majestoso, o Grande Templo de Jerusalém”. Confira as medidas: 488 metros de comprimento, 40 metros de altura e 4,6 metros de profundidade.
COLOCAR O TEFELIN
Assim que avistei o Kotel fiz um grande sorriso e, junto com Ilan, me encaminhei para acessá-lo de fato. Na entrada, um religioso judeu ofereceu sua ajuda para eu colocar o Tefelin, o que aceitei prontamente. Foi a primeira vez que coloquei o Tefelin naquele local tão sagrado.


Segundo o site do Beit Chabad, “o termo Tefilin é reminescente da palavra Tefilá (prece, em português). Consiste em duas pequenas caixas quadradas de couro de um animal casher, permitidos para consumo. Devem formar um quadrado perfeito e as tiras de couro devem ser pintadas de preto, sem qualquer falha. Dentro de cada caixa encontram-se escritos em pergaminho (que também é feito de um animal casher), quatro parágrafos da Torá [o livro sagrado do judaísmo]”.
Esses quatro parágrafos, também de acordo com o site do Beit Chabad, são os seguintes: “Shemá Israel – Proclama a Unidade Divina, base fundamental da fé judaica: descreve a ordem Divina de colocar os Tefilin sobre a mão e a cabeça; Vehayá Im Shamoa – Expressa a promessa de D´us, da compensação que nos advirá da observância dos preceitos da Torá e o aviso da retribuição pela desobediência aos mesmos; Cadêsh Li – O dever de Israel de sempre relembrar a redenção da escravidão no Egito; e Vehayá Ki Yeviachá – Recorda o dever de cada pai judeu de ensinar a seus filhos todos estes temas”.

PEDRAS, PEDIDOS E AGRADECIMENTOS
Junto ao Kotel há dois setores distintos: um para homens e outro para mulheres. No setor masculino, com as mãos encostadas no Muro, olhei para cima e vi a grandeza daquele lugar, o tamanho daquelas pedras que estão ali há quase 2 mil anos e centenas de milhares de bilhetinhos escritos a mão, com pedidos ou agradecimentos, de pessoas, imagino, de todos os credos – não apenas de judeus.
Fiz minhas preces em voz baixa e, mais uma vez, agradeci a Deus por estar vivo e naquele lugar. Depois fiz mais fotos do Muro e continuei o roteiro com o guia Ilan. E pensar que os judeus, por meio do Estado de Israel – fundado em 1948 –, só puderam retomar o seu Kotel de volta há apenas 38 anos.

Em 7 de junho de 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, os paraquedistas israelenses, muito emocionados, reconquistaram o Muro Ocidental, vencendo no caso as tropas da Jordânia. Ao final do conflito, os jordanianos, que ocupavam ainda o Lado Oriental da cidade, foram derrotados assim como os exércitos do Egito e da Síria. Ao final da guerra, Jerusalém também foi reunificada.
SEGURANÇA E KIPÁ
A área do Kotel é uma das regiões mais protegidas em todo o mundo. Além de policiais fortemente armados, há câmaras de segurança por muitos lugares. Para acessar o local, as pessoas – todas, sem exceção – devem passar por uma cabine onde há detetor de metais, igual como há em um aeroporto, por exemplo.
O acesso ao Kotel, aberto diariamente, é gratuito. A regra básica, assim como se visita uma igreja, uma mesquita e um templo de candomblé ou hindu, por exemplo, é se portar com respeito. Aos homens não judeus, no entanto, é necessário entrarem também com a kipá – solidéu. Quem não tem pode pegar uma emprestada na entrada. As mulheres não usam kipá.

Quem quiser colocar bilhetinhos, com pedidos ou agradecimentos a Deus, no espaço entre as enormes pedras no Kotel pode fazer sem qualquer constrangimento. É possível tirar fotos sem problemas, mas evite focar os judeus ortodoxos.

No período do Shabat, o descanso semanal dos judeus, que começa no pôr-do-sol de sexta-feira e segue até o pôr-do-sol do sábado, o Kotel fica lotado. Nesse período recomenda-se não fotografar no local.
No dia em que visitei a Cidade Velha de Jerusalém, Israel já havia começado, infelizmente, a sentir os efeitos da chamada Terceira Intifada – ou Intifada das Facas, a revolta palestina que exige o fim da ocupação israelense na Cisjordânia. Nessa revolta, palestinos e até alguns árabes-israelenses, munidos de facas e incentivados abertamente por religiosos muçulmanos extremistas, provocaram diversos atos terroristas assassinando judeus na Cisjordânia e no Estado de Israel.
No entanto, graças a Deus, não presenciei e não fui ferido em nenhum ato terrorista em Jerusalém – e em Israel como um todo – durante na minha estada naquele país. Apenas ouvi – e respeitei – a orientação do guia Ilan, para evitarmos o Bairro Árabe na Cidade Velha de Jerusalém.

Na minha avaliação, comecei de forma maravilhosa minha terceira viagem a Israel: recebendo as bênçãos de Deus no Kotel, em Jerusalém. Amém!
O TURISMO ETC viajou a convite do Ministério do Turismo de Israel, com seguro de viagem da Intermac Assistance